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Na TV Brasil

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

PITACO DE MÃE: Birra - por Clarissa Meyer*

Birrento, birrento, acho que meu filho nunca foi. Pelo menos eu não o vejo assim. É claro que ele nunca foi santo, adora uma bagunça, é contestador, encrenqueiro, reclamão, adora que façam suas vontades, está na fase de querer tudo agora, mas acho que, no geral, tive sorte quanto a esta questão dos chiliques e birras. Ele tem sim um pouco de dificuldade de dividir e aceitar a opinião dos outros, mas nunca foi de fazer chantagem emocional comigo nem com meu marido.
É claro que  passamos por alguns episódios em que ele ficava mais estressado, como, por exemplo, quando tinha por volta de 2 anos e não gostava de entrar no supermercado e ficar muito tempo. As compras tinham que ser feitas sempre muito rapidamente para que ele não chorasse. O estímulo visual de vários objetos, o barulho, muitas pessoas, tudo isso o incomodava. Mas é perfeitamente compreensível, afinal nem nós adultos suportamos por muito tempo um ambiente assim. Teve também aquela fase de não querer ir à escola, de fazer um escândalo básico na hora da entrada, mas nada de muito sério.
Agora, teve uma vez que aconteceu algo que me deixou traumatizada. Este episódio sim eu lembro perfeitamente até hoje e posso chamar de um ataque de birra dos clássicos! Foi por volta dos 3 anos e pouco. Ele estava de férias e foi convidado para brincar na casa de uma amiguinha juntamente com mais outra amiga em comum.
De início tudo ia bem. Eles estavam tentando se acertar naquela conhecida mania de que tudo que está na mão do outro é mais interessante, mas pelo menos estavam se divertindo. A brincadeira rolou algumas horas, tomaram lanche, tudo dentro do programado para aquela tarde, que teria sido muito bacana se não fosse pelo desfecho.
Já estava quase na hora de ir embora quando alguém encontrou um joguinho de tintas e tiveram a ideia de brincar de pintar. Tudo bem, ainda tínhamos alguns minutos, meu filho sempre adorou pintura e topou na hora. Começaram os trabalhos, folhas pra cá, pincéis pra lá, tintas de várias cores, aguá, cada um pegava uma cor... Mas eis que alguém pegou a cor que ele queria. Ele queria a tinta preta...
Só que ele queria muuuito a tinta preta - vocês não têm noção! -  e a amiga estava usando e não aceitava dividir.  Daí começou... Ele queria porque queria a tinta preta!  Tinha que ser preta! “A PRETAAAAAAAAAA!!!”. Não podia ser mais nenhuma outra!!! Eu só sei que a coisa foi tomando uma proporção tão grande, mas tão grande, que eu comecei a me assustar. Ele ficou muuuito bravo e tão irritado que começou a jogar tudo pro alto, bater nas pessoas, gritar, chorar, espernear. Chegou a ficar roxo!!!
E eu em vez de fazer alguma coisa, fiquei paralisada, meio em estado de choque. Nunca tinha visto um ataque daqueles! Parecia o Michael Douglas naquele filme “Um dia de fúria”, destruindo tudo que via pela frente... Tentei a todo custo acalmá-lo, contornar a situação – se é que era possível -, mas tudo de um jeito meio automático porque eu não estava acreditando naquilo que estava acontecendo... Ele NUNCA tinha feito um escândalo daqueles, não tinha motivo algum para fazer! Era só uma brincadeira com tinta entre amigos!!!
No fim das contas, eu tive que arrastá-lo para o banheiro para jogar uma água fria no rosto (tipo separar briga de cão e gato, sabe? rs) e fomos embora para casa. Saí de lá com uma sensação terrível. Uma sensação de impotência, de perda de controle e ao mesmo tempo de culpa... Como uma criança tão pequena poderia fazer um escândalo tão grande? Como eu não consegui contê-lo naquela hora??? Foi tão estranho... Ele se transformou de um jeito que eu não estava o reconhecendo!
Passei o restante do dia bem frustrada, pensando no que exatamente tinha dado errado e o que eu poderia fazer para que uma cena daquelas nunca mais se repetisse, afinal eu não queria passar por uma situação daquelas nunca mais! Conversei muito, mas muito com ele. Expliquei várias vezes que aquele comportamento não poderia se repetir jamais.
A partir desta conversa, combinamos o “1,2,3”, que é mais ou menos o seguinte: quando ele fica muito bravo, eu conto calmamente até 3 para que ele respire e se acalme. Se isto não acontecer, a gente pára tudo que está fazendo e ele vai para o cantinho pensar ou a gente vai embora de onde estivermos. Usei muito esta técnica e funcionou bastante. Pelo menos, perto de mim, ele nunca mais teve uma crise parecida.
Mas é fase.  Birra é fase.  É uma maneira  que a criança tem de reagir quando lhe é negada alguma coisa. É uma das formas dela tentar se impor e lidar com a frustração. Faz parte do aprendizado. O bom é que passa - como toda fase! Só que daí depois vem outra fase, e outra, e outra... Tipo vídeo game!!!rsrs 
Mas e quem disse que criar um filho é fácil, não é mesmo?  Nestas horas, temos que ter muito sangue frio e paciência para não perder a cabeça. É um exercício de autocontrole. Então, que tal respirarmos fundo e contarmos até 3 na hora do chilique??? Acho que já é um começo...  E vamos combinar que bater está fora de cogitação, ok?  Enfim, muita calma e boa sorte a todos nesta hora!!!! :-)
* Clarissa Meyer é mãe, advogada, colunista e editora do blog Papo de Mãe.

DICA DE LEITURA

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ATENÇÃO!!!
Em janeiro vamos reprisar 4 programas da temporada 2011. Vocês podem nos ajudar escolhendo quais serão eles votando na enquete que está  ao lado aqui blog. Encerraremos a enquete no dia 15/12. Votem que ainda dá tempo!

3 comentários:

Maeve Vida disse...

Acho que a ideia é essa mesmo. Yogananda, um mestre da Ciência da Meditação, dá a seguinte dica: quando você sentir que vai perder o autocontrole, como por exemplo, bater em uma criança, o que é inadmissível, saia do recinto, vá fazer outra coisa, caminhar, qualquer coisa. Só volte a falar com ele quando puder dar também um exemplo de comportamento que você deseja ver nele.

PAPO DE MÃE disse...

Maeve, é o que procuro fazer o tempo todo. Ajuda muito mesmo. Não só para lidar com os filhos, mas em qualquer situação. Se estou em casa, me recolho. Se estou fora, vou dar uma volta. Se todo mundo fizesse isso seria tudo tão diferente, né? Beijos e obrigada!
Clarissa

Anônimo disse...

Muito interessante a idéia do "1,2,3" e as consequências se não funcionar. A criança aprende os limites que a vida exige da gente.
Um abraço.
Manoel.