Olá, pessoal!
Gostaram do programa de ontem? Esperamos que tenha sido esclarecedor, afinal a saúde da boca é muito importante e a prevenção dos problemas que podem afetar os dentes deve começar desde muito cedo - ainda no útero materno!
Na reportagem de Rosângela Santos, tivemos a oportunidade de conhecer um trabalho muito bacana dos “Dentistas do Bem”. Para quem ainda não conhece, o projeto consiste no trabalho voluntário de cirurgiões-dentistas que atendem crianças e adolescentes de baixa renda, proporcionando-lhes tratamento odontológico gratuito até completarem 18 anos. Os pacientes são selecionados por grau de necessidade, através de uma triagem feita entre crianças de 5ª a 8ª séries em escolas da rede pública de todo o Brasil. A seleção é feita através da aplicação de um índice de prioridade, que beneficia as crianças com problemas bucais mais graves, mais pobres e as mais próximas do primeiro emprego. O tratamento, feito no consultório do próprio dentista voluntário, é de caráter curativo, preventivo e educativo. Atualmente, o “Dentista do Bem” conta com mais de 3100 dentistas voluntários espalhados por todo o País – nos 26 Estados e Distrito Federal. Para garantir seu bom funcionamento, o projeto conta com uma Central de Atendimento permitindo uma eficaz comunicação entre os envolvidos: a criança, a família, a escola, o cirurgião-dentista e a equipe técnica.
A seguir vocês ficam com a entrevista na íntegra que Rosângela Santos fez com o Dr. Marcos Jordão, dentista voluntário e um dos coordenadores do projeto – regional São Paulo.
Rosângela – Doutor Marcos, como é esse trabalho que o senhor faz como coordenador e como voluntário no projeto “dentista do bem”?
Dr. Marcos – Como coordenador, eu sou responsável em fazer as triagens. Então a gente vai até a instituição a qual entramos em contato, eu seleciono, faço as triagens das crianças dentro da faixa etária de 11 a 17 anos e encaminho à coordenação. Dentro dessas triagens são selecionadas as crianças que tem maior prioridade de tratamento, as que estão mais próximas do primeiro emprego. Então a gente volta para a escola/ instituição e pega a autorização dos pais para o tratamento. Como coordenador é isto. A gente tem também a responsabilidade de tentar cadastrar mais dentistas voluntários para aumentar as rede de atendimento. Como voluntário, eu atendo crianças no meu próprio consultório como se fosse um atendimento particular.
Rosângela - E não é uma consulta? O senhor acompanha essa criança até fazer 18 anos?
Dr. Marcos – O dentista voluntário tem a obrigação de dar o atendimento até o paciente completar 18 anos. E é qualquer atendimento dentro da área de odontologia. Ele é responsável por todos os procedimentos.
Rosângela - Quer dizer, se ela precisar de um aparelho, se a sua especialidade não for essa, o senhor tem que arrumar alguém...?
Dr. Marcos - Eu encaminho para algum colega meu que faça a ortodontia ou outra especialidade que eu não faça, e sou responsável por esse tratamento quando ele voltar. E o jovem continua comigo até completar 18 anos. Na realidade, os pacientes nunca vão pagar absolutamente nada, pois o dentista voluntário é sempre responsável por todo o tratamento dele.
Rosângela – Como funciona essa triagem? Normalmente, as escolas ligam para vocês ou vocês vão procurar essas escolas ou ONGs?
Dr. Marcos - Dificilmente as escolas entram em contato. A gente é que vai atrás das escolas. As instituições, lares, abrigos, creches, às vezes, por indicação, nós ligamos e pedimos para fazer a triagem, para apresentar o projeto. Mas, normalmente, nós é que vamos atrás. Depois do contato, apresentamos o projeto e convencemos a diretora a abrir a escola para podermos selecionar essas crianças para poder dar o atendimento.
Rosângela – Quais são os principais problemas que essas crianças de 11 a 18 anos apresentam?
Dr. Marcos – Por falta de condições de um atendimento odontológico no serviço público, algumas crianças já perderam os dentes, possuem cáries grandes, problemas de canal... Então, quando elas chegam, a partir dos 11 anos, elas apresentam problemas de mordida, acabam tendo que fazer a parte de ortodontia, alguns dentes já se perderam... Então, temos que primeiro fazer o tratamento clínico, tirar a dor e depois toda a parte de reabilitação. Prótese, implante, tem que fazer tudo. Até existem programas de prevenção. Tem muita escola que faz programa de prevenção. Mas programa de prevenção nada mais é do que aplicar flúor, ensinar a técnica de escovação e, às vezes, eles ganham escova. Mas, de resto, como todo mundo não tem acesso a isso, os dentes acabam estragando. Essa prevenção não é efetiva. Existe, mas não tem uma capacidade de abranger todo mundo e de resolver o problema. Então, quando elas passam dos 11, 12 anos, o problema já está instalado.
Rosângela - E esses tratamentos, normalmente, são tratamentos caros. Quer dizer, essa criança jamais teria condições de pagá-los?
Dr. Marcos - Jamais! Jamais é uma palavra forte, mas na condição atual delas, não tem condição de pagar nada. Uma profilaxia talvez, aplicação de flúor... Mas se não escova, não adianta passar flúor. Eu dou escova para todos. A cada 3 meses, eles vem buscar escova, pasta e fio. Com esta orientação prévia, a escova e a pasta são eficientes para manter aquilo que foi feito. Para manter em ordem. Mas se ela já está com o problema e só escovar os dentes, não vai resolver nada. Tem que tratar.
Rosângela - A partir de qual idade os pais devem procurar o dentista?
Dr. Marcos – Como a gente tem um serviço de ginecologia e obstetrícia dentro da clínica, as gestantes já começam a ter orientações sobre o bebê dentro da barriga. Então, existem algumas interferências que, se a mãe não tiver alguns hábitos saudáveis, vão comprometer a saúde bucal da criança, o surgimento dos dentes. Então essa orientação, esse acompanhamento, começa na gestação. Isto aqui dentro da clínica. No serviço público é complicado. Normalmente, as mães procuram atendimento quando as crianças começam a trocar os dentes de leite pelos dentes permanentes porque elas acham que os dentes de leite não precisam de tratamento. O que é um erro.
Rosângela – Quais são as orientações para uma criança para que ela tenha uma higiene bucal perfeita? Uma criança numa situação normal, que o senhor oferece a pasta. O que o senhor orienta?
Dr. Marcos – Escovar os dentes com frequência todos os dias. Então ela tem que ter aprendido a escovar. Alguém habilitado, o dentista ou uma boa professora, de repente, consegue ensinar como escovar os dentes. A frequência disso é 3, 4, 5 vezes ao dia. Todos os dias e com uma boa escova. Mas nesta freqüência a escova deteriora e acaba não tendo mais uma boa função. Então a criança tem que ter bons hábitos alimentares também. Se a frequência do consumo do açúcar for muito alta, e ela não escovar, o índice de cárie aumenta. E dentro de casa os pais são responsáveis. Não adianta simplesmente pedir par escovar e não supervisionar.
Rosângela - Quem tem prioridade para o atendimento?
Dr. Marcos – Crianças com dor sempre têm prioridade de atendimento. Então perguntamos se tem dor e qual a frequência dessa dor. Se ela tiver dor é porque algum problema já está instalado e não é recente. E como a gente faz um exame visual, não clínico, nesta hora, a gente percebe que de repente tem um dente muito destruído, algum abscesso, então a dor está justificada e aí esta criança tem prioridade no tratamento.
Rosângela – Hoje, o senhor imagina a sua vida sem esse atendimento dos “dentistas do bem”? Sem esse atendimento voluntário? Quem ganha mais? O senhor ou eles?
Dr. Marcos - Eles e eu. Os dois ganham. Eles têm a oportunidade de tratamento que a gente sabe que é difícil. Se eu não fizer, algum colega meu iria fazer, mas dentro do projeto ou alguma entidade assistencial. Fora isso, quem iria fazer? Ninguém. A necessidade é muito grande. A gente não dá conta. E eu ganho com o prazer de atender, com o sorriso, com a palavra da mãe e do pai, com uma carta que eles deixam... Eles ganham a possibilidade de poder sorrir e não ter dor. E eu ganho no prazer de poder fazer isso e ajudar. Envolve solidariedade, envolve um certo compromisso que a sociedade deveria ter, já que os órgãos públicos não têm. Então, eu posso ajudar? Posso. Para o dentista voluntário é uma coisa simples porque eu não preciso sair do consultório. Às vezes, no trabalho social, a pessoa tem que se deslocar, levar material para um outro lugar, e isto dificulta. Mas o dentista voluntário atende no próprio consultório. Então isso acaba sendo cômodo, é fácil. Basta ele abrir um horário na agenda. Não consigo mais me imaginar sem esse lado do atendimento voluntário.
ATENÇÃO: Se você é dentista e tem interesse em participar como voluntário entre em contato com a coordenadoria dos "Dentistas do Bem”: [email protected]. Acesse também o site da TURMA DO BEM para conhecer outros projetos: http://www.turmadobem.org.br/ ou telefone para: (11) 5084-7276 / 5084-1399. Escolas e instituições também podem entrar em contato e solicitar uma triagem. Vale lembrar que o serviço conta com voluntários em todo o país. Pessoal, por hoje é isto. Mas antes de finalizar a postagem, gostaríamos de lembrar que hoje é o Dia Internacional da Síndrome de Down. Queremos mandar um grande abraço para todas as famílias e portadores da síndrome, e para todos aqueles que trabalham e acreditam na inclusão social. O Papo de Mãe já fez um programa com este tema e foi muito bacana. Vocês podem acessar o conteúdo publicado na época da exibição clicando aqui. Vale a pena conferir e divulgar!