Por Teresa Ruas*
Hoje em dia, a criança que entra cedo na escola passa mais tempo com as professoras e os coleguinhas do que com a mamãe e o papai. Isso porque em países em desenvolvimento, como o Brasil, as mães ficam menos tempo com os filhos nos primeiros anos de vida do que nos países desenvolvidos por terem de retornar ao trabalho ao final da licença-maternidade (180 dias).
Muitas mamães se sentem culpadas por não poderem se dedicar exclusivamente ao bebê depois dos 6 meses de vida dele. É como se o instinto materno dissesse que ninguém pode cuidar da criança tão bem como ela.
Ainda demorará para o nosso país oferecer condições parecidas com as das nações economicamente mais fortes. Enquanto isso, os pais devem encontrar formas de melhorar a qualidade do tempo que passam ao lado de seus filhos.
Está provado que as primeiras relações afetivas são fundamentais para o desenvolvimento afetivo, social, cognitivo, motor e sensorial da criança. Nos primeiros instantes do desenvolvimento, ela acredita ser uma continuidade da mãe e que a mãe, por sua vez, é também continuidade dela. Por isso é comum que bebês chorem sem motivo aparente e se acalmem quando a mãe se aproxima.
Para a criança, a mãe é reflexo da existência dela. Se, de repente, essa base existencial é retirada muito cedo do seu dia a dia, ela precisará de outros mecanismos para se desenvolver e entender que é uma pessoa diferente da mãe. A estrutura psíquica da criança se forma a partir dessa diferenciação entre o bebê e sua mãe.
Por isso o pai é tão importante. Ele atenua essa relação simbiótica entre a criança e a mãe. Primeiro, ele é quem entra nessa relação. Depois vem a figura do irmão, dos avós, das tias e das outras crianças. Desenvolver e aprender a cada dia é um processo angustiante e difícil para a criança.
No primeiro ano de vida, por exemplo, ela sofre transformações qualitativas e quantitativas em um curto período de tempo. E como a criança vai lidar com todas as mudanças e aquisições de novas habilidades e potencialidades? Através da interação e da relação com outras pessoas, com os brinquedos e com o seu contexto cultural e social.
As relações e pontes que vão ajudá-la a aprender e compreender o mundo ao seu redor são estabelecidas no próprio cotidiano. Pais e mães que trabalham fora e ficam muito tempo longe das crianças devem reservar um tempo para brincar com elas. Todos os dias. Esse brincar não significa, necessariamente recreação, mas sim interação e relação.
A natureza da criança é essencialmente lúdica. Ela tem uma grande capacidade de imaginar, de criar e de brincar. A forma de dar a comida para ela, de dar banho e fazê-la dormir podem ser momentos de profunda interatividade entre o bebê e os pais e, portanto, momentos lúdicos e afetivos.
A qualidade desses momentos é alimentada pela natureza lúdica e ocupacional da criança, que é o brincar. Através do brincar e com os pais ela aprende a imitar, a criar e a simbolizar, apreendendo a cultura e os valores da família.
Brincar com os filhos no dia a dia, e não apenas nos fins de semana, é uma forma eficaz de contribuir com o seu desenvolvimento sem fazer força. Essa gostosa relação por meio de brincadeiras ainda ajuda a formar a base afetiva da criança e cria vínculos que podem durar a vida inteira.
*Teresa Ruas é terapeuta ocupacional, especialista em desenvolvimento infantil. Participou como especialista convidada do Papo de Mãe sobre a Saúde do Recém-nascido, exibido em 29.08.2012.
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