O que é
Endometriose?
Prof. Dr. Maurício Simões Abrão*
Fonte: www.iape.org.br
A
Endometriose corresponde ao implante do endométrio fora da cavidade uterina.
Ocorre mais frequentemente nas cavidades pélvica e abdominal, acometendo o
peritônio ou mais profundamente órgãos como o ovário, bexiga e/ou intestinos.
Menos frequentemente, pode ser encontrada em diversos outros locais do corpo
humano.
Os focos de tecido endometrial,
localizados fora do seu habitat natural, continuam sendo estimulados
mensalmente pela ação hormonal do ciclo menstrual e funcionam como “corpo
estranho” ao local de implantação, provocando reação inflamatória ao redor de
si, causando dor no período menstrual.
Com o tempo, o processo
inflamatório desencadeia a formação de aderências ao redor do foco de
endometriose entre as estruturas vizinhas, dificultando a mobilidade e função
da estrutura acometida, causando dor pélvica crônica e até esterilidade.
Os pequenos focos podem crescer e
se espalhar, levando a consequências variáveis, de acordo com sua localização.
Nos ovários, podem produzir
cistos de conteúdo sanguinolento, chamados de endometriomas ou cistos
“chocolate” pela aparência do sangue espesso coletado dentro daquele órgão.
Tais cistos, eventualmente, atingem grandes proporções.
No peritônio, uma das principais
sedes de implantação, acomete mais frequentemente os ligamentos úteros-sacros,
levando a sua retração. Este fato pode determinar a tração do útero para trás,
determinando a retroversão uterina, fator que colabora com a dor nas relações
sexuais.
Entre os sintomas de acometimento
intestinal citamos a dor às evacuações e sangramentos anais no período
menstrual, com eventual obstrução do trânsito das fezes.
Sua presença na bexiga pode
determinar ardor ao urinar, urgência miccional ou hematúria (urina com sangue).
Em cicatrizes de cirurgias ou
partos formam nódulos (“caroços”), que podem crescer e se tornar dolorosos no
período menstrual, sendo conhecidos como endometriomas de cicatrizes ou de
parede abdominal. Outros sítios mais distantes podem com menor frequência ser
alvo da doença. Em cada local, a sintomatologia usualmente relaciona-se com o
período menstrual.
Fato pouco compreendido, a
intensidade dos sintomas, nem sempre se relaciona com a severidade da
endometriose. Mulheres com grandes focos diagnosticados podem apresentar
sintomas leves, enquanto em outras mulheres, com mínimos implantes, a dor pode
ser insuportável.
Sintomas
da Endometriose
O crescimento do tecido
endometrial em locais incomuns causa os sintomas desagradáveis da doença, que
se traduzem basicamente em dores crônicas, infertilidade ou alterações
intestinais ou urinárias.
Dentre os sintomas de dor,
destacam-se a dor durante a menstruação, caracterizando as cólicas menstruais.
Estas cólicas, muitas vezes, não melhoram com medicações (e são consideradas
severas) ou requerem repouso (ditas incapacitantes). Outra variedade de dor é a
dor na relação sexual, principalmente na penetração profunda, que tende a se
intensificar no período pré-menstrual. Por fim, quando a doença se intensifica,
podem surgir dores fora da menstruação.
Como sintomas intestinais,
habitualmente “cíclicos”, ou seja, que se intensificam no período da
menstruação, há a diarreia, dor para evacuar, obstipação (prisão de ventre) ou
sangramento intestinal.
No trato urinário, a paciente
pode se queixar de dor para urinar durante a menstruação, alteração do hábito
urinário ou até sangramento na urina.
Diagnóstico
da Endometriose
Diagnóstico Laboratorial
Diagnóstico Laboratorial
A busca de métodos laboratoriais
para o diagnóstico da Endometriose tem ocupado espaço importante entre os
estudiosos do assunto. Vários “marcadores” foram propostos e o mais utilizado
no diagnóstico da Endometriose é o CA 125. É um marcador descrito inicialmente
para o câncer de ovário, mas, que com o tempo foi observado que doenças
benignas como a Endometriose podem apresentar positividade deste exame em
portadoras da doença.
Em pacientes com hipótese diagnóstica
de Endometriose, quando nos deparamos com CA 125 aumentado durante a
menstruação, principalmente com valores acima de 50 mg/ml, suspeita-se de
doença nos estádios avançados. O encontro de valores inferiores a estes se
associa à ausência da doença ou a presença de endometriose nos estágios
iniciais, sendo fundamental a observação dos outros métodos diagnósticos.
Diagnóstico Clínico
O diagnóstico inicial é feito
através da identificação dos principais sintomas das doenças. Cólicas
menstruais severas, dores na relação sexual, dores entre as menstruações,
dificuldade para engravidar ou alterações intestinais ou urinárias durante a
menstruação fazem o médico pensar em Endometriose.
O exame físico é arma fundamental
no raciocínio sobre a doença. O exame do abdome, do colo do útero e o toque
vaginal são as três etapas do exame fundamentais para o diagnóstico. A palpação
abdominal pode revelar aumento abdominal, massas palpáveis e dores localizadas.
O exame do colo do útero pode nos informar sobre possíveis implantes da doença
no colo ou na parede vaginal.
O toque vaginal é recurso clínico
fundamental, pois pode revelar a posição do útero, aumentos ovarianos, dores
atrás do útero e, principalmente, nódulos profundos e dolorosos que representam a
Endometriose profunda.
Diagnóstico por Imagem
Dentre os exames ditos por
imagem, destacam-se o ultrassom transvaginal, a ressonância magnética e, mais recentemente,
a ecoendoscopia retal, também chamada de ecocolonoscopia.
Laparoscopia
Lavelmente é o melhor método para se diagnosticar a Endometriose, assim como para se iniciar o tratamento da doença. É feita por pequenas incisões na parede do abdome. A primeira, com 1,5 cm, é realizada no interior da cicatriz umbilical, serve para introduzir-se uma ótica, que é um tubo metálico com 10 mm que permite a visualização da cavidade abdominal. Este local permite melhor resultado estético.
Faz-se mais duas (eventualmente
mais três) no terço inferior do abdome, em geral, dos locais que correspondem
às extremidades de uma cicatriz de cesárea. Através destas incisões,
introduzem-se pinças e tesouras com as quais se aborda a doença.
Dentre as vantagens desse procedimento,
destacam-se a melhor capacidade de enxergar pequenos focos da doença, melhor
recuperação pós-operatória, menor custo terapêutico e menor internação
hospitalar.
A videolaparoscopia pode utilizar
a eletrocirurgia convencional ou o laser. O laser representa recurso válido
para se tratar alguns tipos de endometriose como a doença de peritônio ou de
diafragma.
Microlaparoscopia
É um tipo de laparoscopia
realizado por pequenas incisões. Os instrumentos têm 2 a 3 mm de diâmetro e
este procedimento é indicado quando não há evidência de endometriose avançada.
É um recurso promissor para o diagnóstico e tratamento da Endometriose.
Causas da Endometriose
Várias teorias tentam explicar as
causas da Endometriose sem, contudo, elucidar definitivamente a etiologia do
processo. Talvez, a associação dessas teorias consiga explicar melhor o
processo. Descreveremos de forma objetiva, a seguir, as principais teorias:
Restos embrionários: Foi a
primeira delas, descrita por Russel em 1899. Baseou-se na suposição de que células
de origem Mülleriana (remanescentes do período embrionário da mulher) poderiam
apresentar potencial para desenvolver tecido endometrial fora de seu sítio
original. Contudo, não houve sustentação científica definitiva, pela
distribuição anatômica divergente e restrição da doença ao período reprodutivo
das mulheres.
Metaplasia celômica: Relatada em
1919 por Meyer, representou a primeira teoria completa sobre a formação da
Endometriose. Tal autor justificou a doença por possível transformação do
peritônio pélvico em tecido endometrial, levando à formação de focos de
Endometriose. Hoje essa teoria é pouco aceita, por não explicar a presença de
Endometriose em locais onde não existe peritônio.
Menstruação retrógrada:
Representa uma das principais explicações para o desenvolvimento da doença. Foi
descrita por Sampson em 1921, que concluiu que haveria durante a menstruação,
“regurgitação” tubária de células endometriais, ou seja, apesar do endométrio
ser expulso do útero em grande parte pela vagina, uma mínima quantidade poderia
alcançar a cavidade pélvica através das tubas uterinas sem obstrução. Uma das
justificativas para sua credibilidade é o fato de que a doença apresenta maior
acometimento dos ovários e ligamentos úteros-sacros, coincidente com a desembocadura
das tubas uterinas. Por outro lado, o fato de 90% das mulheres com tubas
normais apresentarem menstruação retrógrada e a maioria delas não desenvolver
endometriose, além da possibilidade do encontro da doença em lugares alheios a
esse mecanismo, fizeram com que surgissem outras hipóteses.
Disseminação linfática e
hematogênica: Sugerida pela primeira vez por Halban em 1935, procurou
justificar o encontro da doença em lugares distantes. Baseou-se no achado de
tecido endometrial microscópico em vasos linfáticos e linfonodos.
Posteriormente, Sampsom, em 1927, relatou a via sanguínea para o transporte de
tecido endometrial. A carência de maiores estudos impediu que essa teoria
tivesse maior destaque.
Disseminação latrogênica: Frequentemente
observamos endometriose em cicatrizes de cirurgias prévias, como as abdominais
ou partos. Baseado nesse fato, Greenhill, em 1942 aventou a possibilidade de
que fragmentos endometriais poderiam ali permanecer, desencadeados pelo
procedimento cirúrgico.
Imunológica: A mais moderna e de
fundamental importância. A partir de 1980, crescentes estudos relacionaram
endometriose com alterações específicas da imunidade celular, que constitui
parte do sistema de proteção do organismo humano. O fato de que apenas 10% de
todas as mulheres com menstruação retrógrada desenvolviam endometriose
contribuiu para a busca desse fator. Dmowski em 1981 postulou que a deficiência
na imunidade celular ou incapacidade de reconhecer o tecido endometrial
implantado fora do útero poderiam ser responsáveis pelo desenvolvimento da
doença. A participação do sistema imune na endometriose é clara, mas o
mecanismo real desse processo permanece obscuro. A teoria imunológica confirma
a teoria multifatorial, que se baseia em múltiplos fatores associados para explicar
os mecanismos da Endometriose.
Fatores familiar e genético:
Apesar da dificuldade no diagnóstico de endometriose em gerações anteriores,
pela não disponibilidade na época de métodos atuais, vários autores propuseram
a influência familiar na gênese da doença. Malinaak em 1980 mostrou que a
presença de endometriose em parentes de primeiro grau está associada à maior
gravidade do processo. Contudo, nenhuma relação com herança genética é
descrita.
Nas últimas décadas, grandes
avanços foram obtidos sobre a endometriose. Todavia, novos estudos ainda são
necessários para a elucidação completa desta
moléstia, com benefícios no controle da sua progressão. Este fato será de
grande importância, pois apesar dessa moléstia não possuir potencial de
malignidade, como o câncer, a endometriose tende a progredir e prejudicar a
qualidade de vida das pacientes. Por esta razão, buscamos no dia a dia,
desvendar os mistérios que a cercam.
Formas de Tratamento
O tratamento da Endometriose pode
ser clínico ou cirúrgico. Em geral, reservamos a indicação cirúrgica para casos
nos quais há sinais de doença avançada (pelo exame clínico, ultrassom e/ou pelo
CA 125 dosado no sangue) ou nos casos onde houver falha no tratamento clínico
para portadoras de doença inicial.
O principal procedimento
cirúrgico indicado é a laparoscopia, que permite visualizar, a partir de
pequenas incisões abdominais, os pontos afetados e neles fazer a intervenção
necessária, utilizando-se de laser ou cautérios. Em casos de cistos ovarianos
causados pela Endometriose, conhecidos como endometriomas, há necessidade da
retirada deste cisto, através de cuidadosa separação cirúrgica do ovário normal
do cisto ou faz-se a cauterização de focos da doença no interior do cisto.
Em casos mais graves, além da
cirurgia é ainda necessário bloquear temporariamente, por meio de remédios, o
funcionamento ovariano da paciente, impedindo a ação dos hormônios sobre os
focos de endométrio e o desenvolvimento de novas inflamações. A utilização de
medicamentos, porém, não leva ao que se pode considerar uma cura da doença, que
ainda não foi descoberta.
As substâncias químicas são simplesmente uma forma de
controlar seu desenvolvimento e impedir suas consequências mais extremas.
Apesar da possibilidade de a endometriose reaparecer, sua administração é
totalmente viável, principalmente quando não se perdem de vista os aspectos
emocionais nela envolvidos. As pílulas combinadas ou os dispositivos intrauterino
(DIUS) medicados com progesterona são alternativas terapêuticas.
A Endometriose não tem cura, mas
ela pode ser tratada e seus sintomas amenizados, possibilitando melhor
qualidade de vida para as portadoras. Nas últimas décadas, grandes avanços
foram obtidos. Todavia, novos estudos ainda são necessários para a elucidação
completa dessa doença, bem como para progressos no seu tratamento.
***
* Prof. Dr. Maurício Simões Abrão é médico
ginecologista e obstetra, professor
associado do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (USP), responsável pelo Setor de Endometriose da
Clínica Ginecológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e
Presidente da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente
Invasiva (SBE). Também é membro do
Conselho da Sociedade Mundial de Endometriose (WES) e da Associação Americana
de Ginecologia Laparoscópica (AAGL) e autor de vários livros, entre eles
"Endometriose: uma Visão Contemporânea" (Editora Revinter).
Participou como especialista convidado do Programa Papo de Mãe sobre
Endometriose, exibido em 27.05.2012. Contato: www.medicinadamulher.com.br
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Um comentário:
Depoimento de Cura total de Endometriose
Gostaria de contribuir para a esperança de quem tem Endometriose. Essa cura é possível através de um médico Macrobiótico, como o Dr. Elias, que fica no Conjunto Nacional. Com o tratamento com ele, por mais de 1 ano em rígida dieta, me curei de uma endometriose reincidente, não precisei operar novamente, curei também: uma rinite alérgica e um problema crônico de constipação intestinal. A macrobiótica trabalha com os princípios de equilíbrio yin-yang. Na Livraria Omnisciência (www.omnisciencia.com.br) tem livros sobre isso para quem se interessar. Boa sorte a todas!
Maeve Vida
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