Por Carla Poppa*
Fonte:
Instituto do Amor
Quando um bebê chega ao mundo, existe uma tendência
natural dos pais de colocarem seus desejos em segundo plano e priorizarem as
necessidades do filho. A fragilidade do bebê nos leva a pensar de modo quase
instintivo que ele precisa de cuidados constantes que não lhe deixem esperando
por muito tempo. O ponto que gostaria de ressaltar é que tanto o homem quanto a
mulher aprendem a ser pais cuidando de um bebê, que é um ser desamparado e
absolutamente dependente dos cuidados que recebe e, portanto, exige que os pais
desenvolvam um estilo de cuidado especifico que consiste em identificar e
satisfazer as suas necessidades no momento em que surgem.
Com o tempo, o bebê vai crescendo, se transforma em
uma criança com novas habilidades, consegue andar e se expressar e precisa cada
vez mais de tempo e espaço para exercitar suas novas conquistas. Nesse momento,
os pais que estavam se acostumando às exigências do bebê começam a perceber que
precisam mudar novamente e desenvolvem um novo estilo de cuidado. Caso essa
flexibilidade esteja impedida por algum motivo, corre-se o risco de se
continuar cuidando de uma criança da mesma maneira que se cuidava do bebê. Ou
seja, de dar para a criança aquilo que ela já tem capacidade de conseguir por conta
própria.
Os pais que apoiados em sua sensibilidade e
flexibilidade conseguem acompanhar as transformações da criança aprendem a
esperar para atender às solicitações dos filhos e passam a oferecer
oportunidades para que eles se apropriem dos seus novos recursos. Além disso,
entendem que precisarão frustrar seus filhos em algumas ocasiões, ajudando-os a
perceber que nem sempre o seu desejo poderá ser atendido.
Acredito que é importante ressaltar essa
transformação pela qual o cuidado deve passar, pois para muitos pais esse
ajuste é difícil de ser alcançado. Os limites e a frustração podem ser
apresentados na relação com o filho muito cedo, antes que ele esteja preparado,
ou de maneira oposta, alguns pais não “suportam” frustrar seus filhos e desse
modo, não percebem que estão lhe privando uma dimensão fundamental do cuidado.
A experiência de frustração (não estou me referindo
à privação de afeto, mas à adequação as regras dos lugares e de convivência),
quando bem conduzida pelo adulto responsável, ensina a criança sobre as
diferenças. Por exemplo, uma criança pode querer levar para a escola um
brinquedo e sentir-se frustrada quando ouve um não de um adulto. Ela pode
chorar, fazer manha… mas o adulto deve ter em mente que essa é uma oportunidade
de aprendizagem.
Ele precisa lhe contar de um jeito próprio que o que
ela quer fazer é diferente do que a escola permite, e que, portanto, ele pode
levar o brinquedo quando for buscá-la na escola, por exemplo, mas a regra
definida precisa ser cumprida. Ao explicitar e contar para a criança sobre a
diferença entre o que ela quer e o que pode ser feito, ele a está ensinando
sobre a necessidade de se adequar e de respeitar as regras dos lugares que frequentamos
e a desenvolver maneiras criativas para lidar com a frustração experienciada.
Desse modo, as necessidades da criança se
transformam com o tempo e os cuidados oferecidos a ela precisam se transformar
também, as experiências de frustração adquirem um novo significado e passam a
representar uma oportunidade de aprendizado, mas para isso precisam de um
adulto ao seu lado que a ajude a identificar o que ela quer fazer,
o que pode ser feito e como ela pode lidar com essa
situação.
*Carla Poppa é Psicóloga formada pela PUC-SP, com
especialização em Gestalt Terapia pelo Instituto Sedes Sapientae e mestranda do
programa de Psicologia Clinica, no núcleo de Psicossomática e Psicologia
Hospitalar da PUC-SP. Psicoterapeuta de crianças, adolescentes e adultos. Blog:
http://carlapoppa.blogspot.com.br
Leia também:
Nenhum comentário:
Postar um comentário