Um dia estava caminhando na praia
e vi uma cena interessante. Uma criança aprendia a andar de bicicleta e
animadamente pedia a sua mãe que tirasse as duas rodinhas extras que lhe
forneciam uma certa segurança. Insistia dizendo: “mamãe eu já sei andar
sozinha, por favor!!! A mãe se recusava a dar um voto de confiança e repetia
que ainda precisava de mais tempo e que era perigoso, podia cair. A menininha
muito esperta respondeu: “mas se eu não cair não consigo aprender!” Bingo,
garota!
É verdade, se não cair não poderá
aprender sobre os cuidados necessários e, mais ainda, não aprenderá sobre sua
própria força. Pais sob o manto do amor e a intenção de impedir que seus filhos
sofram, fazem toda a sorte de coisas para protegê-los, inclusive, tomam
providências que mais acalmam seus próprios medos que propriamente são uma
necessidade real da criança.
Pois é, quase sempre são os pais
que sofrem com o crescimento dos filhos. O que é mais intrigante é a luta que
se trava com o que há de mais natural, crescer! Então, alguns pais impedem que
seus filhos durmam em seus quartos, responsabilizem–se pelas tarefas da
escola, arrumem seus brinquedos ou comam por sua conta. Estamos aqui nos referindo
às crianças que estão em perfeita saúde e já não são mais bebês.
Uma coisa é uma criança ter seu
crescimento forçado, sendo quase obrigada a abandonar as fases próprias da
infância e se tornar uma adolescente, fora do tempo previsto, outra coisa é valorizar
pequenas oportunidades, próprias de cada
idade, para que a criança experimente devagar o sabor da autonomia.
Processos que adiantam o
desenvolvimento – conhecidos como adultização da infância – têm sido observados
nos dias de hoje, principalmente, com o acesso fácil e rápido com que crianças e adolescentes têm
a quase todo tipo de conteúdo. Além disso, vivemos em tempos de resultados,
performances e competitividade, logo tudo precisa acontecer muito rápido. Os
processos, o tempo que cada aspecto do desenvolvimento necessita para
amadurecer, são apressados. O
desempenho das crianças é observado e
avaliado em rápido ou lento, esquecendo-se que cada um tem seu próprio ritmo.
A criança do nosso exemplo
demonstra que seu ritmo está pedindo uma chance, mas sua mãe, por razões pessoais, mais que da criança, prefere deixar
adiada a oportunidade da experiência de crescer um pouquinho.
Entretanto, o que observamos é que
por trás da maneira como cada pai ou mãe educa seu filho, há crenças
importantes. Alguns acreditam que amar os filhos significa que eles devam
permanecer dependentes da estrutura familiar. A tal família unida para
eternidade pode se converter num lugar pouco fértil ao crescimento e
descoberta da independência.
Podemos dizer que quando tudo vai
razoavelmente bem na educação, os filhos buscam seus espaços, fazem suas
escolhas e continuamente se responsabilizam por cada conquista. Bons pais se
tornam desnecessários, bons pais toleram, por vezes, frustrar seus filhos e
acreditam que o melhor ensinamento é a crença em si mesmo, por isso topam tirar
as rodinhas da bicicleta, ou permitem que sua filha escolha a cor do vestido que
quer usar.
Quando pais aceleram o
crescimento dos filhos ou o lentificam é importante que reflita sobre suas
vidas, seus projetos e suas frustrações. Manter filhos superprotegidos e
excessivamente assessorados pode significar um enorme vazio na vida desses pais,
seja na vida conjugal ou pessoal. Assim, precisam da dependência prolongada porque
assim prolongam suas tarefas como pai ou mãe. O contrário é verdadeiro. Há pais
que não suportam cuidar da infância e se apressam em exigir dos filhos que
cresçam rápido, se cuidem por conta e mostrem resultado.
Crescimento precisa ser entendido
como um processo da natureza e com muitas vantagens. Crescer ou não crescer, não
se trata de uma escolha, é uma condição que, faça o que fizer, ou deixe de fazer,
o tempo passa e a vida sempre irá requerer novas habilidades para os novos
desafios. A criança que não puder ser alimentada e ensinada a crescer sofrerá
perdas importantes e terá que fazer maiores esforços para dar conta das
naturais demandas do viver.
* Blenda de Oliveira é Psicóloga
Clínica formada pela PUC-SP, Psicanalista pela Sociedade Brasileira de
Psicanálise de São Paulo (SBPSP) e psicoterapeuta de adultos, adolescentes,
crianças, famílias e casais. Participou como especialista convidada do Papo de
Mãe sobre "deixar o filho crescer", exibido em 30.09.2012.
Um comentário:
Verdade, a superproteção acaba fazendo com que as crianças sintam-se incapazes de agir.
Amei o post!
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