Por Solange Melo*
A psicóloga Solange Melo no Programa Papo de Mãe |
Impossível dor maior do que a de enterrar o corpo de um filho, ainda mais quando essa morte acontece em consequência de um homicídio.
Essa dor, de tão imensa e cruel, não tem sequer nome. E dilacera a alma, fazendo-a sangrar, até o último dia de vida, pois enterrar o corpo de um filho é também enterrar um pedaço de si mesmo.
Continuar a viver, quando o desejo é o de morrer juntamente com ele, não é tarefa fácil. E muitas são as vezes em que há necessidade de se buscar uma ajuda profissional. Ao se perder um filho, o pior não é viver. O pior é viver sem viver e ter que respirar.
Viver o luto é fundamental até mesmo para se sair dele. Ou então, corre-se o risco de ficar gravitando em torno da dor, sem conseguir superá-la. E para superar é necessário não negá-la. É preciso falar sobre ela, chorar por causa dela, exorcizá-la dentro da alma.
Esse acontecimento abre em definitivo uma ferida na alma, ferida essa que será lembrada e que significará um divisor de águas na vida. Se bem administrado, a dor dá lugar à saudade. Mas nunca mais a vida será a mesma. E para sempre. O sorriso nunca mais escutado, o cheiro nunca mais sentido, o brilho do olhar nunca mais visto, tudo isso ficará na memória do cérebro e do coração.
Mas a vida segue e é preciso continuar a viver. E viver sem culpa por continuar vivo depois da partida do outro ser tão amado. E cada pessoa consegue se reconstruir emocionalmente no seu próprio tempo, que é pessoal. Lembrando sempre que a saudade é uma ferida que fere nos dois mundos. Quem foi partiu para o mundo do criador e quem ficou permanece no mundo das criaturas.
*Solange Melo é psicóloga. Participou como especialista convidada do Papo de Mãe “Perdi meu filho para a violência”, exibido em 10.11.2013.
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