Vidacorrida.com
Por
Cecília Russo Troiano*
Até algum
tempo atrás, responder a um telefonema no dia seguinte ao recebimento do recado
era considerado um retorno rápido e aceitável. Hoje, em tempos de
hiper-velocidade, demorar mais do que
duas horas para responder a um email é quase um pecado. Velocidade passou a ser
a medida do sucesso. “Real time” é a ordem do dia e tudo gira em torno desse
ritmo frenético. Produtos são vendidos
com a promessa de economia de tempo, as propagandas exaltam ofertas relâmpago,
os serviços de delivery disputam quem faz entregas no menor prazo e o “ fast
track” dá a tônica da vida.
Nossas vidas,
mesmo morando em um lugar tão paradisíaco como Aldeia da Serra, não ficam
imunes a esse ritmo. Vivemos em casas bastante equipadas, com produtos de
última geração, muitos deles que compramos com a ilusão de economizarmos
tempo. Nessa lista de compras incluímos macarrão
que fica pronto em menos de 3 minutos, iPads que trazem aplicativos com acesso
direto às lojas preferidas, TVs que gravam para vermos depois, quando der
tempo! Sem falar na banda larga que antes parecia tão rápida e agora já nos
vemos impacientes com sua lentidão em alguns dias. Pensar que já tivemos que
nos conectar à internet via “dial up” parece hoje um pesadelo pré histórico.
Vivemos uma
era guiada pelos cronômetros, nossos relógios ficaram obsoletos mostrando as horas,
longas horas num mundo que pede a velocidade dos segundos. Muitas vezes, me
vejo ansiosa “esperando” a inicialização do computador ou à espera da abertura
de uma página na web. Em geral, nessa
era em que vivemos, tudo parece mais
lento do que gostaríamos.
Ufa! Já me
canso só de relatar quão refém dessa velocidade estamos nos tornando. É
inevitável “gastarmos” um tempo para refletir sobre como esse ritmo intenso está afetando nossas vidas
e de nossas famílias. Será que conseguiremos, no meio de tudo isso, dar um
“pause” nessa corrida maluca e curtir nossos filhos? Andar pelo lago sem olhar
para o relógio? Sair com o marido sem hora para voltar? Curtir um jantar em
família, em volta da mesa, sem a pressão do tempo para levantar correndo e
checar o Facebook? Nossa, ainda temos mais isso para consumir nosso tempo!
Muitas vezes,
me pego acelerada e mal conseguindo ter prazer em coisas pequenas do meu dia a
dia. Que pena, não deveria ser assim, certo? Será que com essa fúria do
acelerador vai dar tempo de curtir a vida ou vamos ser espectadores de nossa
história, vendo-a passar rapidamente, como se olhássemos pela janela de um trem
a 200 km/hora?
Também sou
refém do tempo, equilibrando muitos pratinhos e creio que exatamente por isso
acho que essa reflexão é urgente. Muitas vezes, nossas vidas de equilibristas
ganham ares de gincana, com sucessivas provas, numa corrida sem fim. Torna-se
fundamental abrirmos espaço para essa reflexão, afinal, nada mais verdadeiro
que o ditado: “a vida é uma só”. O
Projeto Aldeia do Bem tem proposto uma saudável e importante discussão sobre
nossa qualidade de vida. Certamente, pensar e discutir esse tema é um primeiro
passo para uma vida melhor, para nós e para nossas famílias. E para isso não
pode faltar tempo!
*Cecília Russo
Troiano é psicóloga formada
pela PUC/SP e autora dos livros “Vida
de Equilibrista: dores e delícias da mãe que trabalha” e “Aprendiz de equilibrista: como
ensinar os filhos a conciliar família e carreira. Participou como especialista
convidada do Papo de Mãe sobre “Malabarismos de mãe”, exibido em 11.11.12.
Site: www.vidadeequilibrista.com.br.
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