Fonte: www.deyvisrocha.com
Era uma vez um oficial da cavalaria alemã que viveu
no século XVIII e que lutou em algumas guerras e quando se aposentou começou a
contar aos amigos e a quem mais quisesse ouvir as suas extraordinárias proezas
no campo de batalha, assim como as suas aventuras de caçador e desportista, se
bem que a opinião dos seus ouvintes se dividia entre quem achasse que as
histórias que Karl Friedrich Hieronymus, Freihher von Münchhausen, mais
conhecido como Barão de Munhausen, contava eram um tanto exageradas e quem
considerasse que elas eram mentiras deslavadas.
Talvez o velho Barão de Munchausen não tenha sido o
primeiro mentiroso de que se tem notícia. Certamente, não foi o último. Afinal,
quem nunca contou uma mentirinha aqui e ali? Falou que foi naquela festa onde
estava toda a galera e não foi? Disse que “pegou” aquela gata, mas não “pegou”
ninguém? Mentir para si mesmo, então, é muito fácil (e frequente)! A virada do
ano que o diga. Todo mundo promete fazer uma dieta para emagrecer, diz que vai
parar de fumar, de beber e, no fim, nada. Mas não se preocupe, os especialistas
afirmam que uma embromaçãozinha de vez em quando é normal. Entretanto, a
quantidade de mentiras que suma pessoa conta pode ser tanta que ela pode
merecer um diagnóstico de mentiroso patológico, de mitômano.
Que tal o exemplo de alguns filmes? Você se lembra
do “O Mentiroso”, um advogado, interpretado por Jim Carrey? O personagem conta
milhares de mentiras para se dar bem, até que seu filho, no dia do próprio
aniversário, faz um pedido para que o pai pare de mentir e quando o desejo é
atendido, o personagem de Carrey se envolve em várias confusões porque não
consegue dizer nada que não seja a pura verdade.
No longa “VIPs”, o ator Wagner Moura fala sobre a
história real de Marcelo Nascimento da Rocha, um mentiroso nato que aplicou
vários golpes através das identidades falsas que criou. Ele se passou por um
oficial do Exército, acreditava ser o guitarrista da banda Engenheiros do
Hawaii e fez se passar por um herdeiro de uma empresa de linha aérea. Hoje,
Marcelo cumpre pena por estelionato em Goiás. E na TV, quem não se recorda com
saudades de um dos personagens mais queridos de Chico Anysio, o Pantaleão e
suas histórias fantásticas? É mentira, Terta?
No caso dos mitômanos, que são esses indivíduos com
tendência compulsiva para a mentira, o ato de mentir pode ser tão frequente e
tão despropositado, isto é, sem que com a mentira se queira obter benefícios
financeiros ou ausência de um dever, por exemplo, que podemos estabelecer um
diagnóstico de pseudologia fantástica ou mitomania.
A categoria diagnóstica em que esses mentirosos
estão inseridos é dos Transtornos Factícios. Raramente, a pessoa vai procurar
um psiquiatra por causa das mentiras que conta. O que é mais comum chegar aos
hospitais e ambulatórios é o indivíduo que produz intencionalmente sinais e
sintomas de transtornos clínicos e mentais cujo único propósito é o de assumir
o papel de doente sem nenhum incentivo ou benefício externo. Esse casos vão
desde pessoas que fingem ter um surto psicótico ou sofrer de amnésia, até
indivíduos que simulam vários sintomas e sinais de doenças físicas e se
submetem a várias intervenções cirúrgicas abdominais para encontrar um mal que
eles fingem ter. É justamente a esse tipo de comportamento que alguém decidiu
dar o nome de Síndrome de Munchausen, em homenagem ao nosso querido barão
alemão.
O hábito de mentir é bastante comum, mas não se
sabe ainda que fatores genéticos ou sociais transformar uma pessoa em um
mentiroso patológico. Em geral, trata-se de pessoas com uma estrutura de
personalidade e de identidade própria muito frágeis. Mentir em demasia pode
também estar associado a outros quadros psiquiátricos, como os transtornos de
personalidade borderline e antissocial..
Não há consenso entre os especialistas se os
mentirosos patológicos realmente acreditam naquilo que estão contando, ou até
que ponto eles pensam que as suas histórias são verdadeiras ou não. Em geral,
eles um bom julgamento sobre outros aspectos da vida, o que faz pensar que também
sabem distinguir bem o que é real e o que não é em suas histórias.
As pessoas que têm uma tendência muito grande para
mentir podem até ter uma vida exitosa e produtiva, mas não é incomum que essas
mentiras causem algum tipo de empecilho com a lei e, claro, o desmascaramento
das mentiras pode trazer sérios danos à reputação da pessoa.
Já o indivíduo, digamos assim, consciente de suas
mentiras, é aquele que conta algo para se dar bem. Se ele simula uma doença
qualquer, o seu propósito é obter algum tipo de benefício financeiro ou evitar
alguma obrigação, como o trabalho, fugir da polícia ou mesmo obter acomodação e
alimentação gratuita (alguém aí lembrou de “Um Estranho no Ninho”?). Nesse
caso, a mentira acaba quando ela já não e considerada lucrativa ou quando o
risco de mentir se torna grande demais.
* Dr. Deyvis Rocha é psiquiatra. Participou como
especialista convidado do programa Papo de Mãe sobre MENTIRAS E FANTASIAS,
exibido em 28.10.2012.
Um comentário:
Conheço várias pessoas assim, o pior é que elas acabam acreditando nas próprias mentiras!
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