Mal
começa a aparecer a barriguinha da gravidez e uma das perguntas que mais se
ouve é “Já sabe se é menino ou menina?”. Dificilmente, os futuros pais resistem
à tentação de saber o que mostra o exame de ultra-som.
Toda
essa curiosidade acerca do sexo do bebê revela bem mais do que apenas um
interesse na escolha do nome da criança ou na compra do enxoval. Revela também
as expectativas que as pessoas, consciente ou inconscientemente, trazem consigo
a respeito dos papéis masculino e feminino. Muitas vezes, pais e mães idealizam
relacionamentos com os filhos influenciados por estereótipos sociais e por suas
próprias vivências pessoais, como o homem que sonha em levar o filho aos jogos
de futebol de seu time ou a mulher que sonha com o espetáculo de ballet da
filha – embora a realidade possa confrontá-los com filhos que simplesmente não
compartilhem destes interesses!
O
mundo atual tem aproximado bastante os universos feminino e masculino. As
mulheres têm conquistado cada vez mais espaço no mercado de trabalho e os
homens têm aprendido a dividir tarefas domésticas e os cuidados com os filhos.
As famílias investem tanto na educação dos meninos como das meninas, com o
objetivo de prepará-los para o futuro. Muitas barreiras já foram derrubadas:
hoje em dia, de modo geral, as pessoas sabem que é benéfico a todas as crianças
ter a possibilidade de brincar com jogos diversos, bolas e bonecos, sem
delimitar brincadeiras “de menino” ou “de menina”, deixando que as preferências
se estabeleçam naturalmente. Essa liberdade enriquece seu repertório emocional
e não determina sua identidade sexual. Da mesma maneira, a participação das
crianças nas tarefas em casa (ajudar a lavar a louça, arrumar os quartos etc.)
deve ser incentivada independente do gênero.
Além
desses aspectos culturais, alguns aspectos biológicos são de interesse na
criação de meninos e meninas. Nos consultórios médicos, por exemplo, a
investigação de algumas patologias – como hérnias e infecções urinárias – tem
que levar em conta o sexo da criança. O processo de puberdade, que inclui as
transformações físicas da época da adolescência, também é muito diferente para
meninos e meninas, acarretando cuidados diversos da parte dos pais.
Já
outros aspectos biológicos, associados às diferenças no desenvolvimento
cerebral masculino e feminino, estão por trás de várias das características
comumente associadas a homens e mulheres. Atualmente, as neurociências têm
contribuído de forma marcante para explicar o funcionamento das diversas
funções do cérebro e sua repercussão no dia a dia. De forma bem simplificada,
podemos dizer que as meninas tendem a desenvolver mais as habilidades verbais
(resultando em melhor desempenho acadêmico em diversas áreas), melhor controle
de impulsos (razão pela qual geralmente são mais “quietinhas”, mais organizadas
e prestam mais atenção), maior cognição social (desenvolvendo relações sociais
com mais facilidade, embora fiquem mais “sensíveis” a elogios e críticas).
Os
meninos costumam desenvolver mais o raciocínio lógico (com impacto positivo na
área de exatas) e habilidades visuo-espaciais (não é à toa que montam e
desmontam tudo!), além de envolverem-se com mais facilidade em atividades
competitivas. Essas diferenças, somadas a fatores genéticos, ajudam também a
entender por que existe um número maior de meninos hiperativos (inclusive são
eles que se envolvem mais em riscos e acidentes domésticos) e com dificuldades
de aprendizagem e, por outro lado, maior risco de ansiedade para as meninas.
Porém,
por mais interessante que possa ser a análise dessas e de outras informações, a
recomendação mais importante para os pais continua sendo a de respeitar a
individualidade de seus filhos, seu jeito único de ser e de viver. E viva as
diferenças!
***
*Dra. Raquel Guimarães Del Monde, é pediatra e autora do livro "Na dose certa - o que mais o
pediatra tem a dizer". Participou como especialista convidada do Papo de
Mãe sobre “Criando Meninas e Meninos”, exibido em 14.10.2012.
Um comentário:
Adorei!
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