A qualidade do relacionamento do casal é bastante relevante em todo este processo, pois ninguém, na realidade, vive e sente o que eles estão passando. Portanto, a união do casal é muito importante neste contexto. O fato de o filho não ser concebido pelo ato sexual poderá refletir negativamente neste momento ou até no resto de suas vidas.
O homem e a mulher sentem de forma diferenciada os sentimentos inerentes a esta vivência, pois a realidade individual de cada um irá determinar a diversificação afetiva desta vivência. As questões culturais também têm forte influência na reação de cada pessoa.
A literatura descritiva apresenta a infertilidade como uma experiência devastadora, especialmente para as mulheres, pelo grau de importância que a realização da maternidade pode ter em seu psiquismo. Não poder gerar filhos pode ser um forte abalo nos referenciais identificatórios da mulher. A maternidade pode ser mais um elo na constituição da identidade feminina.
Pesquisas mostram que 50% das mulheres contra 15% dos homens dizem ser a experiência da infertilidade a que mais abalou sua vida. A diferença é que os homens preferem evitar falar sobre o assunto e ir direto à ação, enquanto as mulheres gostam de falar sobre a questão. Abordar o assunto faz as mulheres se sentirem melhor, e os homens, muitas vezes, pior. A intervenção do psicólogo auxilia o casal também na compreensão destas diferenças que podem afastar o casal afetivamente.
Também sabemos que quando é o homem que apresenta o “problema” e este tem necessidade de ajuda médica, cada consulta, exame, etc. legitima a impossibilidade que é confirmada em cada etapa do tratamento. Sabemos que eles podem sofrer tanto quanto as mulheres, porém manifestam de forma diferenciada. Geralmente, não falam muito no assunto, às vezes, se envolvem mais no trabalho e podem até desenvolver ações que antes não exerciam como beber, etc.
Para a maioria das mulheres, o “ser mãe” (gravidez, parto, criança) é um pilar fundamental de sua identidade feminina. Isto segue ainda, apesar das mudanças sociais das últimas décadas, graças as quais o desenvolvimento profissional ganhou terreno na construção da identidade de muitas mulheres. Paradoxalmente, esta nova possibilidade de fortalecimento da identidade, que surge do desenvolvimento profissional, faz com que a mulher busque a maternidade em idade avançada, o que implica diminuição na taxa de fertilidade e, portanto, possíveis problemas para conseguir sua gravidez.
Em ambos os casos o desgaste emocional é muito grande, uma vivência relacionada paralelamente entre a vida e morte, pois este filho já existe no psiquismo do casal, porém pode não se tornar real. A literatura aponta que a elaboração do fracasso é semelhante à elaboração do luto.
A decisão pelo tratamento é outro ponto importante. O casal, frente à primeira tentativa, geralmente idealiza o resultado positivo e busca “ouvir” somente o que se refere a esta escuta, a fim de se defenderem da possibilidade de fracasso. Já o casal que viveu algum resultado negativo, poderá apresentar expectativas diversificadas, relacionadas à experiência anterior.
Outras questões surgem neste âmbito: a privacidade do casal é invadida pelo tratamento, a rotina é completamente modificada. Portanto, é importante que os envolvidos tenham atenção frente a tais sentimentos e busquem juntos alternativas para conviverem com esta realidade, minimizando maiores danos em suas vidas, porém enfrentando juntos a busca pelo tão desejado filho.
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*Ana Rosa
Detilio Mônaco é psicóloga. Participou como especialista convidada do Papo de
Mãe sobre Infertilidade, exibido em 26.08.2012. Contato: [email protected].
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