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Na TV Brasil

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

DIVISÃO DE TAREFAS DOMÉSTICAS E MACHISMO

Combate ao machismo começa na infância e dentro de casa
Os discursos são menos importantes do que aquilo que se repete no cotidiano, diz psicólogo
Por Thelma Torrecilha* 
A mãe que manda o filho e a filha arrumarem a cozinha juntos está ajudando a combater o machismo. O pai que prepara o almoço da família está dando bom exemplo para seus filhos não serem os machistas de amanhã. Infelizmente, essa não é a rotina da maioria das famílias brasileiras. É dentro de casa que o machismo parece mais irredutível. As tarefas domésticas ficam muito mais por conta das mulheres, porque os homens se negam a fazê-las. Além disso, mães que criam filhos sozinhas assumem tudo ou distribuem afazeres apenas para as meninas, poupando os meninos das obrigações do dia a dia.
Mães de meninos x mães de meninas
Em uma casa onde as crianças crescem vendo as tarefas cotidianas divididas igualmente entre homens e mulheres, as chances de se formarem adultos comprometidos com o respeito aos direitos iguais para ambos os sexos são maiores.
Culturalmente ainda predomina entre os meninos o modelo de comportamento do homem que não assume responsabilidades domésticas. É difícil convencer o filho de que ele precisa limpar o banheiro se o pai estiver no sofá vendo televisão enquanto a mãe faz o serviço da casa. O pai é a grande referência e serve de modelo social e cultural para o filho.
É difícil, mas não impossível. Segundo o psicólogo Florival Sheroki, os comportamentos herdados e aprendidos são modulados socialmente e podem mudar de acordo com as novas necessidades da sociedade. “A melhor forma de ensinar (a não ser machista) é sendo um bom pai. A forma como eu crio é o principal modelo que vou passar para frente. Não quer dizer que quem não recebeu não possa dar para os filhos”.
Se o adulto não faz e o menino não fizer também, o machismo vai passando de geração para geração. Lino de Macedo, professor de psicologia do desenvolvimento do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), disse que os meninos não devem crescer achando que arrumar a casa e fazer comida é coisa de mulher, de mãe ou de empregada. “O que ajuda no sentido educacional é a questão do cotidiano. As responsabilidades domésticas devem ser de ricos e pobres, de meninos e de meninas. Comer é uma necessidade de homens e de mulheres”.
Para Lino de Macedo, os meninos não precisam repetir o adulto. “Os pais são referência pela presença e pela ausência, pelo que fazem ou deixam de fazer, pelo modo como se relacionam com a mãe. A criança observa, acompanha, reflete sobre as variações de comportamento e toma como referência para seguir ou não seguir, com uma apreciação positiva ou uma apreciação negativa”.
A criança guarda os brinquedos desde os primeiros anos de vida e, com o tempo, assume novas tarefas. É fundamental que ela tenha participação no dia a dia da família. As obrigações têm função educacional. “Para as crianças, as coisas simples que marcam. Os discursos são menos importantes do que aquilo que se repete no cotidiano”, explicou o professor Lino.
Se os meninos não forem poupados dos afazeres domésticos juntamente com os seus pais, perceberão que alguma coisa está errada na dinâmica da família. Se ele é menino e tem obrigações em casa, por que o pai não tem? Quem sabe o homem não fique constrangido ao ver todos trabalhando, menos ele, e se levante do sofá.
 *Thelma Torrecilha é mãe,  jornalista, especialista em Comunicação Social e Educação, colunista do Portal IG (Coluna Palavra de Mãe) e da Rádio Brasil Atual (Coluna Mundo da Criança), e editora do blog Mãe na Web. Já participou como mamãe convidada do programa Papo de Mãe.
OBS: Este texto foi originalmente publicado no site http://www.delas.ig.com.br/ na coluna Palavra de Mãe e teve sua publicação autorizada pela autora.   


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