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terça-feira, 13 de setembro de 2011

Métodos de Ensino: Limites e Limitações - por Cézar Said

Olá!
Bem, este artigo não trata exatamente sobre Métodos de Ensino, mas tem muito a ver sobre o que conversamos ao longo do programa deste último domingo.
O psicólogo Cézar Said chama a atenção para a importância do trabalho conjunto entre família e escola na formação das crianças e adolescentes. De nossa parte, não basta escolhermos uma escola bem conceituada de método X, Y ou Z, matricularmos nossos filhos nos melhores cursos extracurriculares e delegarmos a terceiros toda a educação que lhes possa ser dada porque o papel dos pais, da família, é fundamental neste processo.
Por outro lado, os professores também têm sua missão que, sem dúvida alguma, vai além do conteúdo teórico de sala de aula.
Vale a pena ler e refletir sobre o assunto!
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Limites e Limitações
Reflexões sobre aquilo que dificulta a ação de pais e educadores
Por Cézar Said*
É bastante comum, nos dias de hoje, ouvirmos reclamações de pais e professores em torno do comportamento indisciplinado de crianças e adolescentes. Palavrões, brigas, pichações, desrespeito aos mais velhos, desleixo com a aparência, iniciação sexual precoce, gravidez na adolescência, etc., fazem parte do rol de atitudes mencionadas para caracterizar esse comportamento dito indisciplinado.
Esta constatação não nos oferece solução alguma e ao mesmo tempo transfere para os educandos toda a responsabilidade de processarem as mudanças comportamentais esperadas, visto que é deles que provem a chamada indisciplina.
Ao transferir esta responsabilidade para os alunos, deixamos de considerar todo um contexto sócio-histórico que exerce influências decisivas sobre a formação da personalidade. Afinal, o comportamento da criança e do adolescente resulta daquilo que lhes é fornecido na família, na escola e na sociedade em geral.
Embora já se fale em “escola de pais ou para pais” e inúmeras escolas já venham tentando estreitar laços com as famílias, o que ainda se observa é um grande despreparo dos pais na condução da sua prole. Nem sempre motivado apenas pela falta de tempo, mas principalmente pela falta de conhecimento de como sejam seus filhos, do que gostam de brincar, quais são seus colegas, que programas gostam de assistir, que sonhos acalentam.
Quando bem dotados financeiramente, matriculam os filhos nas melhores escolas, proporcionam-lhes viagens de estudos e entretenimento, oferecem-lhes cursos de informática e idiomas, alimentação rica em nutrientes, cuidando com extremo desvelo do corpo e investindo na formação intelectual. A formação moral, quando lembrada, é relegada para alguma religião ou transferida para a escola, pois estes mesmos pais estão muito ocupados com atividades que consideram prioritárias. Além do que, na formação moral o fator decisivo chama-se exemplo e dar bons exemplos requer que os pais se revejam e se impliquem também num processo permanente de autoeducação.
Vale lembrar que a cada fase do desenvolvimento dos filhos eles necessitam de pais diferentes, que estejam atentos a este processo e que cresçam e se abram para conseguirem dar conta desta delicada e importante missão.
Quando pensamos no magistério, é preciso que se diga que a formação inicial dos professores, em muitas instituições de ensino, nem sempre contemplou a possibilidade de se lidar com crianças que apresentam problemas de comportamento (síndromes, transtornos, etc) nem com aquelas portadoras de necessidades especiais. As políticas públicas trataram de universalizar o acesso e não no mesmo ritmo atender com a devida qualidade e esmero tanta diversidade. As exceções ficaram sempre por conta de iniciativas isoladas de instituições e docentes.
Lidar com esta heterogeneidade dos alunos ainda é um grande desafio, quando se planeja, se executa e se avalia, ainda que todo este processo seja permeado por uma constante negociação.
Sem uma articulação e uma sintonia mais fina entre estas duas instâncias, família e escola, dificilmente alcançaremos resultados satisfatórios com relação à conduta da criança. De uma forma ou de outra esbarraremos em alguns limites e nos depararemos com nossas limitações.
Limites são fronteiras subjetivas que devemos respeitar em nossas múltiplas relações dentro e fora da escola. Existem linhas demarcatórias definindo quais são as responsabilidades dos pais, dos professores, dos alunos, do conselho tutelar, etc. Limites podem ser também repensados, modificados, transpostos, mas não há como ignorá-los.
E pensar em disciplina não nos remete apenas a presídios, hospitais e quartéis, como bem demonstram certos autores, mas também a uma noção clara dos limites que precisam ser discutidos, negociados e estabelecidos na vida escolar e familiar.
Há uma disciplina se assim podemos dizer regendo a natureza e o próprio universo, que em sua perfeição e dinamismo se estrutura em leis muito bem estudadas pela física.
Assim, repensando estes conceitos propomos três níveis de disciplina:
1) A preventiva que vai perpassar todas as fases do desenvolvimento biopsicossocial da criança, a partir das atitudes de pais, professores e cuidadores da criança. A disciplina externa é necessária para estruturar a interna, a criança entregue a si mesma dificilmente se disciplina. A presença e o exercício da autoridade paterna e materna são indispensáveis na construção da sua autonomia. Autoridade, não autoritarismo. É essencial libertar a criança das disciplinas desnecessárias, a fim de que ela consiga lidar e até aceitar aquelas que serão inevitáveis no caminho de qualquer pessoa adulta.
2) A punitiva é aquela aplicada nos presídios, nos lares onde os pais corrigem com violência seus filhos, nos países onde o crime é punido com outro crime (pena de morte), e que, inevitavelmente, não promove, não remove as causas da indisciplina, não comunica nem colabora para uma noção clara de limites, ao contrário, avilta, propicia mais problemas.
3) A reparadora, é aquela que procura estimular mudanças positivas no comportamento, trabalhando a conscientização paulatina da criança de que é preciso consertar o que quebrou, repor o que pegou, fechar o que deixou aberto, limpar o que sujou, pedir desculpas se ofendeu.
Para isso, é preciso que os educadores, de um modo geral, tenham o tato necessário para aguardar a hora certa de solicitar a correção. No calor das emoções exaltadas é muito difícil que a criança se predisponha a essa reparação. E não raro, quando se exige isso logo de imediato, comete-se o erro de humilhá-la, obrigando-a a uma correção forçada e exterior.
Não existem fórmulas mágicas, precisamos agregar esforços e analisar cada caso, cada educando em sua especificidade, sem padronizações disciplinares, criando e recriando nossas próprias soluções de forma genuína e sem medo de errar. Só assim conseguiremos repensar os limites e superar nossas limitações.

* Cezár Said é psicólogo, pedagogo, escritor, palestrante e Mestre em Educação (UFRJ). Participou como especialista convidado do Papo de Mãe sobre MÉTODOS DE ENSINO exibido em 11.09.2011. Site: http://www.cezarsaid.com/.
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DICA DE LEITURA
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