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terça-feira, 24 de maio de 2011

VAIDADE INFANTIL - entrevista com pediatra Dr. José Luiz Setúbal

Pessoal, para dar prosseguimento ao papo sobre VAIDADE INFANTIL, segue agora para vocês a íntegra da entrevista que Rosangela Santos fez com o pediatra Dr. José Luiz Setubal, do Hospital Infantil Sabará - São Paulo/SP.
ROSANGELA - Dr. Luiz, o senhor diria que as crianças de hoje estão ficando vaidosas mais cedo?
DR. J.LUIZ- Com certeza. Eu acho que é um fenômeno cultural. As crianças estão sendo expostas a uma mídia que exalta a beleza, o corpo perfeito, e acho que isso acaba influenciando também, para elas, a busca desse sonho, desse objeto de desejo que seria ser bonita, ser uma Gisele Bündchen.
ROSANGELA – O senhor se depara com essa situação no seu consultório, de crianças que chegam e falam, "ah, eu estou gordinha"? Pequenas ainda?
DR. J.LUIZ – Sim. As crianças pequenas menos, mas a partir dos 9, 10 anos, no início da puberdade, a maioria das meninas já tem essa preocupação. Os meninos um pouco mais tarde e não tanto com a parte de estar magro, ou estar gordo, mas de ser fortinho, ser sarado, essas coisas que fazem parte do ideal de beleza masculina de hoje.
ROSANGELA- Isso preocupa os pais também?
DR. J.LUIZ – No caso dos meninos, preocupa muito porque, normalmente, eles associam a ida a uma academia ao uso de um hormônio que a mídia mostra também. Isso é um perigo. Agora, no caso das meninas, eu sinto que é um estímulo das mães, principalmente, para que elas sejam magrinhas, sejam bonitas e sejam vaidosas.
ROSANGELA - O senhor acha que é mais uma preocupação com a saúde da criança ou também com a vaidade?
DR. J.LUIZ – Eu acho que a saúde não é pensada. É muito mais do ponto de vista da vaidade. Da beleza como um objeto de desejo. Não como um objeto de saúde.
ROSANGELA - Crianças com 6,7, 8 anos, meninas, principalmente, elas podem usar maquiagem? Isso pode trazer algum problema clínico para essas crianças?
DR. J.LUIZ – Eu diria que não é aconselhável. Agora,  se for usar uma maquiagem, é melhor usar uma maquiagem feita para criança. Mas tenha consciência que você está expondo a criança a substâncias químicas, a produtos que podem levar a uma alergia, à intolerância, a um problema de pele. E isso vale para maquiagem, para o batom, para o esmalte. São substâncias químicas fortes. Mesmo que elas sejam para o uso infantil, ou hipoalergênicas, elas podem causar danos. Temos sempre que pensar que a criança não é um pequeno adulto. Ela tem um metabolismo diferente, a pele tem uma absorção diferente, muito mais sensível. É mais fácil uma criança adquirir uma intolerância, uma alergia a uma substância química do que um adulto.
ROSANGELA - Nessa mesma linha estão as mechas, os cabelos pintados, as escovas progressivas que, normalmente, crianças de 8, 9, 10 anos fazem?
DR. J.LUIZ – Com certeza. Porque ela vai estar exposta a substâncias químicas para conseguir esse efeito.
ROSANGELA - E o tal do saltinho, Dr. José Luiz, que as meninas pedem?
DR. J.LUIZ – Este é um outro problema. Criança, como ela tem muita energia, ela está sempre brincando, pulando, sempre em atividade física. Um sapato com saltinho não é a melhor opção para a atividade física. Então ela está mais sujeita a uma torção, a problemas ósseos e musculares do que uma criança que está com um tênis, um sapato adequado, ou mesmo descalça, para uma brincadeira ou qualquer atividade física maior.
ROSANGELA - Esse saltinho seria liberado a partir de que idade, em função do crescimento?
DR. J.LUIZ – O salto nunca. Para nenhuma idade. Porque você está forçando uma postura diferente. Mas no caso de uma menina, ela vai ter 90% do crescimento dela até uns 15 anos. Aí estaria mais fácil de usar. Evidentemente que um uso eventual numa festa, uma festa de 15 anos, ou um casamento, uma coisa mais formal, eu não veria como um problema para uma adolescente. Para uma criança menor eu não recomendaria jamais.
ROSANGELA - Roupas apertadas podem fazer mal à criança?
DR. J.LUIZ – Do ponto de vista médico, não. Aí entra a parte psíquica, emocional. Existe uma erotização, uma sensualização da criança muito precoce nos dias de hoje e isso pode provocar alterações do ponto de vista emocional. É um fenômeno muito recente que tem poucos estudos sobre o que acontece com essa criança. Então, é uma coisa que a gente vai ver no futuro...
ROSANGELA - Excesso de vaidade aos, 6, 7 anos, por exemplo, pode antecipar de alguma maneira a puberdade?
DR. J.LUIZ – A puberdade é um fenômeno físico. São alterações hormonais que vão ocorrer na menina por volta dos 8, 9 anos. Isso está mais ligado a uma carga genética, ao peso da criança, do que a fatores externos como a roupa que ela usa ou se usa maquiagem. Isso só vai afetar o desenvolvimento emocional dela, não o físico.
ROSANGELA – Essa revolução hormonal, ela não pode ter nenhuma mudança, não pode sofrer nenhuma consequência se a criança for exposta de uma maneira excessiva a uma “sensualidade” cada vez mais precoce, a estímulos na internet ou na própria mídia, na televisão? Isso não tem relação? Isso é mito?
DR. J.LUIZ - É mito. Não tem. Ela está muito relacionada com a genética e com o peso da criança. Quando a criança atinge determinado peso existe uma ligação, vamos dizer assim, no cérebro dela que diz “olha, está na hora de começar a produzir hormônio feminino”. E ela vai entrar na puberdade. No caso da menina, no fim da puberdade, quando ela menstrua, vai coincidir com a adolescência. No menino a puberdade vai coincidir com a adolescência por volta dos 12 anos.
ROSANGELA - Essa idade da menina é variável de acordo com a genética?
DR. J.LUIZ – No Brasil, o início da puberdade nas meninas é em média por volta dos 9 anos. Aos 7 anos, menino e menina são muito semelhantes fisicamente. Com o início da produção do hormônio feminino, a primeira coisa que vai alterar na menina é a pelificação e o crescimento do broto mamário. Então, uma menina de 9 para 10 anos já vai começar a apresentar um esboço de uma mama. Mas isso junto com uma erotização precoce pode ter consequência.
ROSANGELA - Que cuidados as mães devem ter com as crianças nessa faixa etária? Como as mães podem ajudar as crianças?
DR. J.LUIZ – Eu acho que o jeito mais fácil de ajudar é tratar a criança como uma criança. A infância, hoje em dia, está menor porque as crianças querem logo se transformar num adolescente, e a adolescência é uma fase que está aumentando. Eles demoram mais para sair de casa, demoram mais para serem autônomos. Existem estudos no mundo que mostram que a adolescência, hoje, passou dos 23, 24 anos... E a infância está diminuindo. Então, eu acho que o melhor seria estimular a criança a ser criança. A ter brincadeiras de criança, atividades de criança, se vestir de uma maneira mais infantil. Não como um pequeno adulto.
ROSANGELA - De uma maneira geral, o pai e a mãe tem o mesmo comportamento frente à vaidade das crianças?
DR. J.LUIZ – Na minha prática médica, muitas vezes, eu vejo que a mãe estimula mais essa questão da beleza, da vaidade, e o pai bloqueia um pouco. Ele dá um breque, muitas vezes, ele é um crítico da situação. Ele acha bonitinho, mas não quer transformar a filha numa modelo, numa coisa mais sensualizada.

DICA DE HOJE
Matéria sobre concurso de beleza infantil publicada na Revista Crescer.
Miss Brasil Infantil 2010: beleza e limites
Maquiagem, competição pela roupa mais bonita, deixar de brincar para não se sujar... O que é exagero e o que é fantasia na relação da criança com a beleza? CRESCER acompanhou o concurso Miss Brasil Infantil, ouviu histórias e especialistas para discutir o tema.
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E você que perdeu o programa do domingo, pode conferí-lo aqui:

Vaidade - Parte 1 por papodemae

Parte 2
Parte 3

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